Com medo de dar certo...
Foi
esperando quase nada que um quase tudo apareceu. Simples como um fim de
tarde. No começo era medo, incerteza, insegurança surgindo como
relâmpago no céu. Depois, uma sensação de pertencimento, de paz, de
alegria por encontrar um sentimento desconhecido, mas que fazia bem. Não
teve espumante, holofote, tapete vermelho. Foi simples como um fim de
tarde. Algum frio na barriga, interrogações deslizando pelas mãos
suadas, uma urgência em saber se aquilo era ou não pra ser. É que um dia
alguém nos ensina que quando é pra ser a gente sente. Eu sempre quis
que fosse pra ser, mas nunca foi. Com isso, me distanciei de mim e das
minhas crenças. Mas então, o que não tinha nada, nada pra ser, foi. E eu
fiquei ali, perplexa, parada, estupefata, com medo de dar certo. Porque
a gente tem um medo que nos mastiga lentamente. Um medo azedo, que
deixa a boca adormecida, que cutuca insistentemente. Medo da felicidade.
Medo de que um sonho aconteça. Medo de enfrentar nossos sentimentos que
ainda não acordaram. Então, abri os olhos. Não era sonho. Eu vivi
aquilo. Eu sobrevivi ao medo. Eu encontrei o que chamam de amor.
Clarissa Corrêa
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