Rótulos, palavras, sintonia e sorte
Por favor, não me rotula. Não diz que sou assim ou assado. Eu não sou
sempre constante, não tenho sempre os mesmos atos. Posso até manter um
certo padrão de comportamento, mas acho que todos nós somos assim. Por
favor, não faz isso comigo, não faz isso com você. Me surpreendo com
minhas próprias novidades a cada dia, por isso acho que não mereço uma
faixa colada na cabeça com uma ou duas palavras. O rótulo é como uma
cruz que a gente carrega. É como uma pedra no sapato, pois você pode nem
ser daquele jeito, mas como algum dia alguém disse que você era assim
as coisas automaticamente se transformaram naquilo.
Não entendo por qual motivo buscamos uma palavra para tudo. Existem
coisas sem nome. Sentimentos, ações, pensamentos. E tudo bem, sabe? Tudo
bem mesmo. Nem tudo precisa ser nomeado ou registrado. Se você não sabe
o que dizer, não diga nada. Ou então invente uma palavra bem esquisita.
Só não vale dizer qualquer palavra pronta que vem na cabeça, pois o que
a gente diz às vezes magoa os outros.
Procuro ter cuidado com o que falo, pois sempre penso que quem fala
esquece rapidinho o que disse, já quem ouve, não. Às vezes, as palavras
precisam ser estudadas, acarinhadas e depois, sim, ditas. Não é bonito
dizer tudo que a gente pensa, pois de vez em quando pensamos coisas bem
feias. Por outro lado, tem gente que se protege de escudo e armadura e
se prepara para uma luta inexistente. Não precisa ficar sempre na
defensiva, sempre achando que fez errado ou que algo vai te atingir.
Relaxa. Encara as palavras como elas são, encara as coisas como elas
são. Não precisa ver coisa onde não tem, não precisa ter alguma reação
mais nervosa ou violenta, não precisa nada disso. Os mal entendidos
normalmente ocorrem por dois motivos: uma pessoa não soube se expressar
direito ou a outra pessoa não soube ouvir direito. Conflitos ou
desentendimentos bobos podem ser evitados se houver um pouco mais de
paciência e tolerância, coisa rara hoje em dia. Queremos tudo pra ontem,
pra já. E não somos tolerantes com os erros dos outros, apenas com os
nossos. Somos egoístas ao extremo. Não damos uma chance para o outro,
somente para as nossas tentativas. Mas ninguém vive sozinho. Precisamos
das outras pessoas. Por isso, precisamos exercitar a paciência e a
tolerância.
Nem todo mundo está na mesma sintonia que você. E isso não é errado, é o
jeito de cada um. Não adianta você querer fazer tudo ou querer que o
outro queira o que você quer. Ninguém pode ser forçado a nada. Seja a
ler um livro, concordar com uma ideia ou mudar. A gente muda quando (e
se) quiser. Você não pode querer que as outras pessoas sintam como você,
sejam como você, que as coisas tenham a mesma importância para os
outros que têm para você. Esse é o grande desafio da vida. Boa sorte.
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